quarta-feira, 29 de abril de 2009

POR QUE NÃO PODEMOS TER OS CICLOS NO ENSINO FUNDAMENTAL?

Destaque da rede estadual de SP dribla regra e reprova alunos

A diretoria da E.E. Lúcia de Castro, em Taboão, discorda do sistema de ciclos, implementado pelo governo

Fábio Mazzitelli - Jornal da Tarde

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SÃO PAULO - Dona da melhor média do Enem de 2008, entre as mais de 5 mil unidades da rede estadual de ensino, com 58,51 pontos, a Escola Estadual Lúcia de Castro Bueno, de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, é comandada pelo mesmo diretor há mais de 20 anos. Mantém também uma equipe estável de professores e orgulha-se de seguir à risca o princípio da autonomia escolar, previsto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Assim, o colégio abriu mão de apostilas nas aulas e flexibilizou a progressão continuada, dois dos principais pontos da política educacional do Estado.

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Pelo sistema de ciclos, em vigor há mais de uma década, o aluno do ensino fundamental só pode ser reprovado no fim dos ciclos, no 4º e 8º ano dessa etapa. Em nome da qualidade do ensino, a Lúcia de Castro reprova alguns alunos, mesmo no meio do ciclo, o que faz parte do projeto pedagógico da escola construído nos últimos anos.

"Os alunos têm todas as chances: reforço fora do período de aula, carga adicional de leitura e dever de casa. Há uma cobrança para que os pais o ajudem, com a assinatura de um compromisso. Depois de tudo isso, se as ações se mostrarem infrutíferas, discutimos com os pais a possibilidade de retenção, feita geralmente de comum acordo", explica o diretor, Camilo da Silva Oliveira. "Tenho compromisso com a minha comunidade e com a satisfação dos pais. Eles querem uma escola vencedora e a Lúcio é assim."

Na entrada da escola, um sinal da importância que se dá ao desempenho dos estudantes: uma cópia dos resultados do último Saresp, exame de avaliação da rede estadual. No Idesp de 2008, o colégio alcançou os índices 4,38 na 8ª série e 4,42 no ensino médio, algumas das melhores marcas da rede. Todos os servidores da unidade receberam o bônus máximo de desempenho pelo cumprimento das metas estabelecidas pelo governo estadual.

A escola é a primeira da rede estadual a aparecer na lista do Estado, em 70º lugar. Antes dela, todas as públicas paulistas são escolas técnicas (estaduais e federais).

"Nossos referenciais foram construídos com base nos conteúdos das melhores particulares e do que é cobrado para se entrar na USP, Unicamp e Unesp. De 32 alunos, 20 queriam entrar em uma universidade pública no ano passado", lembra a professora Milena Policastro.

Nesse contexto, segundo os professores, as apostilas de conteúdo adotadas desde 2008 na rede estadual perdem o sentido. "Tem exercícios simples, até infantis", diz o professor de filosofia Gabriel Bistafa. "Usamos só como lição de casa", conta a coordenadora pedagógica Carmela Danza, há 15 anos no colégio.

Outros cartazes na entrada do colégio detalham "normas de convivência" para alunos e pais, comunicadas antes do primeiro dia do ano letivo. Segundo os servidores, elas ajudam a manter o ambiente de respeito. "Como a direção apoia o professor, eu me sinto seguro quando tem um problema", diz o professor de geografia Daniel Moraes. "Eu era professor de escola particular e tinha medo de escola do Estado. Mas aqui as regras são cumpridas", afirma.

Egressa da escola Lúcia de Castro, Caroline Vieira, de 17 anos, está hoje no 1º ano de Direito de uma faculdade particular de São Paulo. "Estudei em outras escolas públicas e a diferença daqui é que nunca teve aula vaga, nunca aconteceu de faltar professor", diz.

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