15/10/2009 - 10h31
Magistério começa a ter dignidade resgatada no Brasil, dizem especialistas
Da Agência Brasil
Em meio a conquistas, impasses e desafios, especialistas em educação ouvidos pela Agência Brasil apontam que o magistério começa a ter sua dignidade resgatada no Brasil. A aprovação do piso salarial para a categoria e o lançamento do Plano Nacional de Formação dos Professores são citados como pontos promissores, mas que ainda necessitam de maior tempo e adaptação para gerar resultados.
Para o presidente da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), Carlos Eduardo Sanches, é possível comemorar avanços, mas o país ainda mantém "uma série de dívidas" com os docentes. "Precisamos avançar muito no sentido de garantir carreiras que sejam compatíveis com as necessidades do país, atrativas para os professores e que valorizem o seu desempenho, para que eles se sintam estimulados", disse.
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Ele lembrou que ainda há um alto número de professores atuando em salas de aula sem ter nem mesmo a formação inicial adequada para a educação básica. Outro problema, segundo Sanches, é a necessidade de uma formação específica para os docentes que atuam nas últimas séries do ensino fundamental. Ele garantiu, entretanto, estar "otimista" diante da possibilidade de formação gratuita para os professores. "É uma luz no fim do túnel que nos deixa muito motivados."
De acordo com Carlos Sanches, o Brasil, nas últimas duas décadas, conseguiu combater a inflação, dar estabilidade à moeda e combater a pobreza. "Se tivéssemos tido a mesma competência e os mesmos investimentos em educação, poderíamos estar colhendo frutos muito melhores".
O coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, concorda que, em 2009, a União passou a se preocupar mais com a formação dos professores. Na sua opinião, os programas anteriores voltados para a categoria eram "bastante tímidos".
Cara acredita que a educação brasileira só terá "o que comemorar" quando obtiver indicadores de qualidade "minimamente aceitáveis". Para ele, o que se pode celebrar, hoje (15) - Dia do Professor - é que a sociedade brasileira já começa a debater uma educação básica com mais qualidade. Resultados mesmo, segundo o especialista, só em pelo menos uma década.
"Mesmo com a aprovação do piso salarial, o desafio ainda é muito grande, principalmente para os professores da educação infantil, que recebem o pior salário. No ensino médio, o principal desafio é fazer com que as pessoas que se formam em física, matemática ou química se interessem por lecionar", disse.
Diante de um mercado de trabalho que oferece oportunidades mais promissoras fora do magistério, o risco, afirmou o coordenador, é que em alguns anos o Brasil não conte mais com professores de disciplinas importantes para o seu desenvolvimento tecnológico.
O jovem Lucas José Braga, de 17 anos, estuda física na UnB (Universidade de Brasília). Antes mesmo de concluir o curso, ele já tem uma certeza: "Não pretendo dar aula", disse. O estudante pretende fazer mestrado e doutorado, mas quer mesmo atuar fora da sala de aula. Um dos motivos que o levaram a tomar a decisão é a deficiência na formação de alguns professores no ensino médio.
Priscila Portela de Araújo, de 23 anos, escolheu estudar biologia na UnB por se tratar de uma área ampla e com diversas opções de trabalho. "Você pode trabalhar em laboratório, com preservação ambiental, pode dar aula e fazer muita coisa." A jovem afirmou que tem vontade de ser professora, mas reclama da falta de incentivo dos próprios docentes do curso.
"No próximo semestre vou fazer estágio em sala de aula. Tenho medo, mas vai ser bom porque vou ver se sirvo mesmo ou não [para ser professora]", afirmou Priscila.
Paula Laboissière
Repórter
Alterada para acréscimo de informações // Edição: Graça Adjuto
UOL Celular
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