terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Alunos usam linguagem coloquial e oral em redações escolares
O aluno deve utilizar os diferentes tipos de linguagem conforme a exigência da situação
Uma maioria de alunos dos ensinos fundamental e médio utiliza, em seus textos escritos, marcas de linguagem oral e coloquial, como gírias e expressões do cotidiano. Para a professora de português e pesquisadora Karin Elisabeth Földes de Araujo é preciso uma mudança no modo de ver o “certo” e o “errado” na língua, e tentar corrigir o “erro do aluno”. “É importante que os alunos saibam que a língua é social e, por isso, existe o coloquial e o culto. É preciso saber os dois modos para as diferentes situações na vida”, explica. Karin analisou o tema em sua dissertação de mestrado apresentada em setembro de 2009 na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
A professora ilustra que a língua oral é, basicamente, diferente da escrita por ser mais dinâmica. “Quando se escreve, há tempo de pensar, de voltar, de apagar o que foi escrito. Na língua oral isso não existe, ela é rápida. Uma vez falado, não há como apagar ou repensar o que foi dito”, explica. “Além disso, na escrita é necessário o uso do padrão ortográfico da língua.”
Karin pesquisou em sua dissertação, defendida em setembro de 2009, as marcas de oralidade em redações de alunos, de 13 a 15 anos, de uma escola pública em Campinas. O interesse pelo assunto surgiu a partir de correções das próprias redações desses alunos, sendo professora de Língua Portuguesa dos mesmos.
O estudo verificou de que forma os alunos utilizam essa oralidade em seus textos escolares, e o que eles sabem sobre a diferença entre oralidade e escrita e entre as linguagens coloquial e culta.
Foram avaliadas redações dissertativas de alunos da sexta, sétima e oitava séries do ensino fundamental e do primeiro ano do ensino médio. Foram pesquisadas 10 redações de cada série, totalizando 40 textos. O tipo de dissertação analisada foi o texto opinativo, com o tema livre. “Para a sexta série foi explicado o que era um texto opinativo, já que é só a partir da sétima e da oitava série que esse tipo de texto começa a ser ensinado na escola”, esclarece Karin.
A pesquisa abordou aspectos gramaticais como ortografia, pontuação, coesão, coerência, entre outros, conforme o que autores renomados dizem sobre o assunto. Foram utilizados como parâmetros de análise as séries e os números de erros gramaticais (fora da norma padrão) encontrados nas redações. “Ao estudar as redações levei em conta a idade e a série do aluno. Eu esperava mais erros numa sexta série do que numa primeira do ensino médio, devido ao nível de escolarização”.
Os resultados mostraram que a maioria dos alunos utiliza sua linguagem oral e coloquial cotidiana em textos escolares de opinião. Quanto maior a idade e a série, menor era o uso da oralidade e da língua na forma coloquial na estrutura do texto. “Muitos alunos usam gírias ou expressões do cotidiano deles. Também há palavras que são escritas da mesma forma que se fala, como, por exemplo, ‘corrê’ ao invés de ‘correr’; ou como eles ouvem em casa, por exemplo, ‘soar’ ao invés de ‘suar’”, ilustra a professora.
O ensino da língua no Brasil
Karin explica que esse resultado, talvez, signifique que o ensino de língua portuguesa ainda esteja voltado mais para a gramática e menos para a oralidade e para o cotidiano do aluno. Em contraponto, ela diz que o material didático produzido hoje já está começando a trazer aspectos sociolinguísticos da língua como as diferenças entre formal e coloquial, fala e escrita, dialetos, etc.
“Muito do ensino tradicional ainda está enraizado, pois, muitos professores ainda ensinam a língua de uma forma solta, fazendo os alunos decorarem os verbos, por exemplo, mas não mostrando como isso é aplicado ao cotidiano deles”, explica a professora. “Além disso, não lhes é explicado que existem diferenças entre a norma padrão e a norma coloquial, e que eles estão na escola para aprender a norma padrão”.
Para Karin, o estudo mostra que não há um modo errado de falar, e sim variedades no modo de falar, e que, para cada situação da vida, a pessoa vai usar a variação adequada. “Ao falar com os amigos é natural que se use o modo coloquial, mas ao passar por uma entrevista de emprego é necessário que se use a linguagem formal. Por isso, é preciso que os estudantes aprendam a norma padrão sem misturá-la com a coloquial, que eles conhecem desde que aprenderam a falar”, finaliza a professora.

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